terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Carta da vírgula na era da exclamação

Prazer. Eu sou a vírgula.

Você não deve estar me reconhecendo, mas é porque eu ando meio sumida mesmo, meio fora de moda. Hoje, com a proliferação das redes sociais, eu venho caindo em desuso. E temo que meu fim seja igual ao do trema, coitado que esteve por cima durante tanto tempo, mesmo após uma vida inteira de gente sem saber direito se ele era homem ou mulher. (Era macho, eu posso dizer.)

Um pouco por influência da língua inglesa, poucos hoje se lembram de mim. Deve ser por isso que os americanos me chamam de "comma". Todo mundo hoje só quer saber da exclamação, aquela exibida, que deu para aparecer em bandos agora, sem a menor necessidade, desobedecendo as regras, sempre aproveitando a deixa do fim de alguma frase supostamente de efeito.

Prima do ponto-e-vírgula, outro incompreendido, sofro bullying na escola até hoje, sendo chamada muitas vezes de "ponto com rabo". Nunca me incomodei de ser usada. Só nunca gostei de injustiça.

Já tive meus dias de glória, quando era convidada mesmo para festas às quais não deveria comparecer. Não espalhe, mas eu já vi propaganda de jornal grande por aí dizendo que "quem lê, sabe". Ora, quem lê mesmo sabe que eu nunca quis separar um sujeito de um verbo. Mas essa é outra discussão.

O que me traz aqui, além do teclado de um notebook velho, é a indignação quanto aos que tentam impor o fim da minha carreira à força. Cansada de ler outros me mencionarem indiscriminadamente, resolvi me manifestar, antes de ter que escrever uma carta de despedida desta gramática.

Tenho visto, com frequência cada vez mais constrangedora, em e-mails, a construção "Oi Fulano", que, se não for propaganda de um novo plano de operadora de telefonia, faz parecer que eu simplesmente morri para muita gente boa. Não aguento (ai, o trema...) mais esse desprezo.

Todos sabem que vocativos, como "Fulano", e interjeições de apelo, como "oi", não se dão bem juntos, precisam de mim, para deixar cada um de um lado. Eu não sou ponto, nem pausa dramática. Fosse assim, (olha eu aí de novo) as pessoas desejariam "feliz, Natal".

"Pausa para respirar" é o cacete! Só o travessão sabe quantos processos eu já tentei contra as professoras das classes de alfabetização, que sempre me difamaram dessa forma. (Desculpe ficar me intrometendo a quase cada palavra desse texto, mas sou eu que estou escrevendo, então, acho que posso ser mais autoral, e me exibir um pouco.)

Bons tempos em que eu tinha lugar de destaque no noticiário, para qualquer que fosse o assunto. A minha interferência era sempre desejada. Chegavam a dizer que eu morava em saleiros nas redações de jornais, e que quem cuidava da minha divulgação (às vezes, excessiva, reconheço) era sempre um estagiário mais inexperiente, ou o copidesque mais criativo.

Outra falta de consideração recente e frequente é o "qualquer coisa me liga". A não ser que o Qualquer Coisa vá te ligar, eu devia estar ali, ó, depois da coisa, ajudando a fazer a ligação. Portanto, pense em mim na próxima vez em que for começar um e-mail. Principalmente, se for para o seu chefe ou aquele cliente importante.

Só nunca escreva "prezado, leitor", porque, se ele for prezado mesmo, não merece ser separado do adjetivo por mim. Nem por qualquer outro sinal de pontuação.

Cordialmente,
Vírgula

PS: Minhas tias aspas, idosas, sofrem de um fenômeno no sentido inverso do que ocorre comigo, e pedem para mandar um recado. Ei-las: "não aguentamos mais essa superexposição. A toda hora vemos nossas imagens sendo usadas gratuitamente e sem autorização, em cartazes pelas ruas, nos lugares mais vulgares, como portas de elevador".

Tias aspas em caso de uso indevido da imagem delas
Segundo elas, o último caso gritante de que tiveram notícia foi o uso indevido de sua imagem num aviso, de "acesso às salas de embarque", assim mesmo, com as aspas inclusas, no aeroporto de Guarulhos. Elas pedem encarecidamente que as pessoas aprendam a usar o Ctrl+C, Ctrl+V, e não incluam as aspas quando chegar uma lei, ou o e-mail do chefe, mandando imprimir algum aviso. Fecha aspas.

Mais sobre agressões à língua portuguesa:
Amor à Crase
Dicionário Rio x São Paulo de Gírias e Afins
Vida de aspas é difícil
Vírgula pergunta: Salve Jorge do quê?
Reforma Hortográfica e a Nova Dramática Brasileira
Publicidade desserviço (ou: As piores estratégias de marketing)

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Resumo da Semana: 14 a 20/01/2012

Essa semana aprendemos que: uma melancia (ou um sofá) escondido embaixo de um vestido de uma mulher não se transforma em quatro crianças; uma mulher parada enquanto um homem faz sexo com ela pode ser só sinal de tédio, porre ou frigidez; homens fazem sexo sozinhos; beber e navegar pode ser mais perigoso do que beber e dirigir; uma pessoa pode virar celebridade mesmo sem a cara dela ou qualquer feito dela serem conhecidos; Luiza não estava na Espanha, como se imaginava, tomando seus "bons drinque"; João Pessoa tem agência de publicidade, internet, especulação imobiliária e fica no Brasil; se o Aécio Brado Retumbante for eleito presidente, o Rio voltará a ser capital da República; nós já fomos mais inteligentes; e o Carlos Nascimento não sabe brincar.

Mais do noticiário:
Globo transmitirá Copa de 2014 em 2015. Chael Sonnen pede revanche contra o canal
Carminha declara apoio a Haddad
Axioma de Tiririca cai após Maluf declarar apoio a Hadddad
Metroviários de SP já pensam em carreira política

Fluminense e Botafogo disputam piadas sobre Corinthians. Torcida corintiana passa a da seleção
Ronaldinho adia estreia no Atlético por não passar no bafômetro e chamar time de "Rabo de Galo"

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Glossário do Caos Aéreo (ou: "Desde que Muprhy virou controlador de voo")

Passageiro revoltado na fila do check-in Rio-São Paulo
A volta para casa da folga de fim de ano (ou de qualquer outra) é sempre uma alegria quando você vai de avião, atividade que, no Brasil, ficou muito mais emocionante nos últimos anos. Diante dessa nova realidade que é o "caos aéreo" constante, são muitas as expressões novas ou que ganham todo um novo significado quando o cidadão desavisado entra no aeroporto. Para ensinar esse novo passageiro a se virar nesse cenário, seguem aqui as traduções de algumas expressões comumente usadas neste setor, em que tudo o que não poderia dar errado dá.

Aparelho eletrônico: aqueles que interferem no sinal dos equipamentos do avião até as empresas começarem a cobrar por ligações e acesso à internet em seus voos. E aquele seu vizinho de poltrona com iPad nunca desliga mesmo.

Assentos flutuantes: uma piadinha das companhias aéreas. Afinal, alguém já soube de alguém que foi salvo por assentos que boiam? E alguém já disse "ufa" depois que algum comissário disse que os assentos boiam? Eu não me incomodaria se os assentos fossem de espuma comum e as empresas gastassem a diferença em manutenção das aeronaves.

Assentos livres: salve-se quem puder.

Assentos marcados: uma ficção das companhias aéreas. Se você der sorte, comprará passagem para o mesmo modelo de aeronave em que embarcará. Do contrário, aproveite para interagir com os outros passageiros discutindo quem é dono de que lugar e fazer amigos. Ou inimigos.

Atraso: qualquer período acima de duas horas. Algo que só não vai acontecer se você tiver lugar para sentar e estiver precisando de tempo para escrever alguma coisa genial para o seu blog. Se estiver com pressa, saque o notebook da mochila.

Caos aéreo: um nome criado para parecer que os problemas também são passageiros. Um bom nome para não precisar escolher um culpado só (ou para não ter um só culpado) por tudo o que dá errado durante o trajeto de uma pessoa que só quer embarcar num lugar e chegar ao outro.

Classe C: também conhecida como a "nova classe média", foi eleita como uma das culpadas pelo caos permanente nos aeroportos, ainda que tenha acabado de chegar no aeroporto e não haja registros de qualquer representante do segmento que seja proprietário de companhias aéreas ou terminais de voos.

Companhias aéreas: entidades superiores que não têm culpa de nada.

Confirmado: esse voo não sai com menos de uma hora de atraso.

Copa do Mundo: é o novo ponto final. Quando qualquer coisa der errado (e vai dar), é só dizer "quero ver isso na Copa". Aceita variações como "não quero nem ver na Copa", "imagina na Copa" e "que vergonha vai ser na Copa".

Despacho de bagagem: decisão da qual você se arrependerá durante todo o restante da viagem. Ou da vida. Tem esse nome por isso, porque só com muita macumba para seus pertences chegarem intactos até o fim do trajeto.

Despressurização da cabine: fodeu.

Embarque próximo: mensagem que aparece se você estiver com fome e vontade de ir ao banheiro. Ao mesmo tempo. Mas só vão chamar mesmo o seu voo quando você desistir de esperar na fila e já estiver na cabine do privativo. Fique feliz se conseguir ouvir o som do alto-falante na hora. No horário mesmo, o voo só vai estar se você, e só você, estiver atrasado(a).

Infraero fazendo seu trabalho e dizendo que não tem nada a ver com isso
"Féshteniórcitibélti": "aperte os cintos de segurança", em inglês de comissário de bordo brasileiro. A frase completa é: "Diz iz fláite nãmber, fór síquis tiú náine, plís féshten iórciti bélti éndi púti de trêi têibou in de âpirraite posichion". Târnófi de eletrônique divaisses ivén ifi in fláiti môudi. Tênqui iul for tchuzim Gol/Tam/Avianca/Azul/Varig/Vasp/Transbrasil".

Galeão: é aeroporto. Mas pode chamar de rodoviária de estrada mesmo.

Horário de embarque: é, no máximo, com sorte, o horário no qual você vai embarcar no ônibus que te levará para a aeronave.

Infraero: empresa responsável por dizer que não é responsável por nada disso aí.

"Lembre-se dos pertences trazidos a bordo": porque, quanto aos despachados, não há nada mesmo que você possa fazer.

"Low fare, low cost": expressão em inglês para empresas de "baixo custo, baixa tarifa", que algumas empresas brasileiras juram ser, só esqueceram de baixar os preços, pois a qualidade do serviço e o espaço nos assentos já são reduzidíssimos. As empresas brasileiras estão mais para "not fair" (não justas).

Olimpíadas: tá, se a Copa der certo, duvido que as Olimpíadas funcionem com um aeroporto como o Galeão no Rio.

Ônibus: o que você lamenta não ter pego quando achou que era mais rápido ir até Guarulhos para pegar um voo para o Rio. Mas sempre tem um para te levar para o avião, ou para uma sala de embarque no meio da pista, quando você acha que já vai entrar no avião.

Overbooking: é, é isso mesmo. Na sua padaria, Seu Manoel não pode vender pão se não tiver para entregar, mas companhia aérea pode vender o que não tem. Esse nome bonito, em inglês, significa isso, que elas venderam mais lugares do que tinham. Esse problema acaba quando a Anac parar de bobagem e permitir que os passageiros viagem em pé.

Pão-de-queijo: qualquer coisa que custe R$ 6. O preço deve ser porque eles fazem cada pão-de-queijo na hora (é o que podemos chamar, portanto, de "atendimento personalizado"). Bem, só isso justificaria a demora que algo tão simples leva para ser entregue ao cidadão em qualquer lanchonete de aeroporto.

Passageiro: se você conseguiu superar todos os outros obstáculos criados para saber se você quer mesmo viajar, e chegou até aqui, este pode ser o seu teste final para saber se você está preparado(a) para a aviação civil (que, no caso, de civilizada, não tem nada) brasileira. É o passageiro que acha que pode colocar o pé na poltrona da frente, que o número da poltrona dele é só parte de um sorteio de bingo, e que ele pode sentar em qualquer lugar, ou que acha que todo mundo do voo tem que esperar ele guardar no bagageiro interno superior o berimbau que ele comprou na feira hippie.

Piso inferior: repare na forma como eles destacam a palavra "INFERIOR", parecendo que estão falando claramente de você, quando vão avisar que o seu portão de embarque mudou para um que fica no andar assim chamado. Significa que você está na merda. Comprou passagem para ir de avião, mas vai viajar é de ônibus mesmo. Pelo menos, até o avião, que estará atrasado, claro.

Ponte aérea: lugar de encontrar gente famosa e gente que acha que é. Além de tirar foto para colocar no Facebook, você pode usá-los para lhe dar a sensação de segurança. Afinal, não pode acontecer nada num voo em que está o ex-BBB 18. Aí, você lembra que pode, sim.

Pousar na água: outro eufemismo para "fodeu". A não ser que você esteja com aquele piloto que pousou no Rio Hudson, perto de Nova York, que deve ter sido o primeiro da história a conseguir fazer isso. Acredite: você não vai querer testar se os assentos flutuam mesmo ou não.

"Corredor, janela ou parede, senhor?"
Previsto: se a tela informa que o seu voo está "previsto", meu amigo/minha amiga, é melhor sentar e relaxar (no chão, provavelmente), pois isso significa "não fazemos ideia do horário em que o avião vai chegar". Você acredita em previsão do futuro? É a mesma coisa, só que com menos chances de acerto. Tenha fé.

Problemas na aeronave: algo de que você não quer saber detalhes.

Puxadinho: é possível explicar para um gringo: o samba, a caipirinha, o Maluf, e até o minhocão. Mas isso, não. Estamos a caminho das salas de embarque infláveis, acredite.

Raio X: máquina com poder de transformar as pessoas em volta em idiotas, que só percebem que as moedas do bolso e o celular são feitos de metal quando chegam em frente ao detector de metais. Algumas, só depois que passam no aparelho. Se houvesse teste psicotécnico antes de voar, os voos estariam vazios no Brasil. Seria o fim do caos aéreo.

Refrigerante: igual ao pão-de-queijo, só que líquido. Dentro do avião, só meio copo mesmo.

Reposicionamento da aeronave: mentira que as companhias aéreas contam para dizer que, enfim, escolheram o seu portão de embarque no bingo que elas fazem para escolher o número que sairá no seu cartão de embarque e, invariavelmente, não guardará qualquer relação com a realidade. Claro que isso não quer dizer que, após o tal "reposicionamento", o seu avião não possa mudar de portão algumas outras vezes. Não acredite no número que vier impresso no seu cartão, ele é só seu número da sorte, coisa que, se você tivesse mesmo, não era brasileiro(a), ou não dependeria do serviço aeroportuário deste país.

Restituição da bagagem: momento mais emocionante da sua viagem, para onde quer que seja. Tem todos os ingredientes de uma boa aventura: dúvida, risco, adrenalina, perigo, tensão, suor, torcida, ansiedade e, eventualmente, alívio. Nome dado provavelmente em homenagem ao Imposto de Renda, que provoca as mesmas emoções.

Salão de embarque: parece um banheiro de estrada, onde nada funciona e tudo é caro, mas é um lugar onde todas as emoções podem acontecer. Quando você menos esperar, pode ver uma multidão correndo em sua direção e não é porque o Justin Bieber chegou em Guarulhos, mas porque o portão de embarque do voo sofreu a 14ª alteração.

O conforto fica claro quando nem a bandeja cabe atrás da poltrona
Serviço de bordo: uma bolachinha seca de alguma marca genérica, dessas que vendem por menos de R$ 0,50 na Central do Brasil, ou (eu disse "ou") um pacote de amendoim de 15 gramas (aproximadamente, cinco bolinhas) que mais ofendem, dão fome e secam a garganta (o gole de refrigerante oferecido com meia pedra de gelo não dá conta) do que qualquer coisa. Também, ninguém mandou reclamar das barrinhas de cereais ou das torradinhas sem graça da Bauducco.

Serviço de bordo pago: para você que reclamava do lanchinho sem graça aí de cima, agora, em determinados voos (mais precisamente, alguns da Gol), você precisa pagar para tomar até água. Coisa de país desenvolvido, que tem empresa "low fare, low cost" (baixa tarifa, baixo custo). Só esqueceram de explicar para a Gol que você precisa ter baixa tarifa antes.

Solo: a "aeronave encontra-se em solo" singnifca apenas que "o avião chegou, mas continuamos sem a menor ideia da hora em que você vai embarcar". Mas, chamando de "aeronave" e "solo", fica mais chique.

Tom Jobim: segundo nome do aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro. Dizem que era para ser uma homenagem, mas não parece. Se eu fosse da família do compositor, pedia para tirarem o nome da família, e colocar de algum dos ilustres governadores ou prefeitos recentes do Rio, que ajudaram o aeroporto a chegar nesse estágio deplorável.

Última chamada: é o status do seu voo imediatamente após o "embarque próximo". Mais uma tentativa das companhias aéreas de dar mais emoção à sua vida e te proporcionar uma vida saudável dando aquela corridinha no aeroporto que você não teve tempo de fazer na academia, pois teve que ir para o aeroporto quatro horas antes do horário em que o seu voo iria de fato sair. Boa viagem.

Outros motivos para a classe média sofrer:
Classe média sofre quando...
Coisas das quais ainda vamos rir. Muito
Viver a especulação imobiliária é...
Conselhos do Tio Vader
Operadoras de telefonia celular conseguem, enfim, implementar bug do milênio com 9º dígito em SP
Pay Per Not View: Dicas para não saber do BBB
Glossário da Bolha Imobiliária Brasileira

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Pay Per Not View: Dicas para não saber do BBB

O ano nem bem começa e, quando você acha que é possível ter um pouco de fé na humanidade, entra o Pedro Bial na sua sala e anuncia a aterrissagem da "nave Big Brother" ali mesmo, sem pedir autorização de pouso antes. Só que, nesse caso, o ET é você, que não quer saber de BBB e odeia quando gritam "uhuuuu", mas a informação (?) vem de todos os lados. Quando você menos espera, já sabe quem é a piranha da casa, quem é o cara sensível, quem é o machão, quem você gostaria que recebesse um meteoro na cabeça primeiro, e, em pouco tempo, já está assistindo e até torcendo para alguém. Como as empresas de TV a cabo ainda não criaram um pacote que bloqueie qualquer tipo de informação (?) a respeito do programa, aqui vão algumas dicas que podem te ajudar a sobreviver inteligente aos próximos três meses:

1. Fuja para o Himalaia. Antes, certifique-se de que a CVC ainda não tem pacotes para lá, pois os brasileiros são os novos japoneses e estão em qualquer lugar do mundo. E comentam sobre o BBB onde estiverem.
2. Tire um período sabático de três meses.
3. Peça demissão. (Sugestão válida apenas caso a anterior não dê certo.) Durante três meses, o BBB será o assunto mais recorrente em qualquer ambiente de trabalho.
4. Leia um livro.
5. Não corte o cabelo por três meses. É impossível ir ao cabeleireiro, ou mesmo ao barbeiro, sem ouvir nada a respeito do programa. Não se preocupe. Você não está proibido(a) de comprar ou "ler" a(s) Playboy(s) com as ex-BBBs que vão sair depois e durante a edição do programa.
6. Leia o Blog do Jorge.
7. Tente cancelar o cartão de crédito, a TV a cabo, o plano da operadora de telefonia celular, transferir uma linha de telefone e contestar o valor da conta de luz. Você, provavelmente, não vai conseguir resolver nenhuma dessas coisas, mas passará três meses bastante ocupado(a), ligando para serviços de telemarketing, ouvidorias e Procon, anotando números infinitos de protocolo, escrevendo cartas para jornais, difamando as empresas nas redes sociais, fazendo ligações que caem subitamente e jogando o aparelho de telefone da janela.
8. Cancele o acesso à internet na sua casa. (Nesse caso, peça para alguém imprimir o Blog do Jorge e levar para você.)
9. Use tampões de ouvido. Descarte a violência como forma de interromper o assunto "BBB". É bem possível que tenha TV na cadeia e você seja forçado(a) a assistir o Big Brother num regime semelhante à tortura. (As tentativas de fuga devem aumentar nessas épocas, especialmente em presídios com TV.)
10. Crie um blog que tenha entre as suas propostas a de ignorar o BBB e seus participantes.
11. Leia um livro.
12. Decida se casar daqui a três meses, com festa, claro. Você não terá tempo para pensar em mais nada.
13. Tenha filhos.
14. Desligue a TV. Se possível, venda o aparelho. Assistir outros canais mesmo em outros horários não vai resolver, pois todos tentarão pegar carona no inevitável sucesso do Big Brother para falar sobre (adivinhe) Big Brother, e ficar repetindo imagens da casa, especialmente nos programas matinais. Além disso, assistir "Amazônia", com o Victor Fasano, não é uma solução, e não vai fazer seu cérebro sentir menos ódio de você.
15. Leia outro livro.
16. Tente criar um refrigerante que possa bater a Coca-Cola.
17. Faça filhos.
18. Como, a essa altura, os livros da sua casa já acabaram, compre outro. Evite as livrarias virtuais, pois é impossível navegar na internet sem ser bombardeado sobre o BBB. Além disso, você já está sem internet (e sem emprego, mas ainda tem o dinheiro das férias que não tirou).
19. Use a escada. Durante os três primeiros meses do ano, o BBB serve de alternativa ao usual papo no elevador sobre o clima e o trânsito.
20. Compre a Piauí.
21. Como, agora, você já está sem dinheiro, vá a pé onde quer que for, pois o BBB é o assunto que predomina em qualquer transporte com mais de uma pessoa (aí, incluídos os táxis).
22. Leia a Piauí.
23. Evite a academia. BBB é o assunto preferido de qualquer lugar onde as pessoas estejam mais preocupadas com a própria imagem do que com o cérebro. E ainda tem o risco de alguém da sua academia estar participando do BBB e te matar de vergonha.
24. Quando acabar de ler a Piauí deste mês, leia a do mês anterior, e assim sucessivamente.
25. Se já for surdo(a), aproveite. Muita gente terá inveja de você durante pelo menos três meses do ano, mesmo que a música do Michel Teló saia de moda.

Mais sobre as alegrias da televisão:
Diálogos que adoraríamos ver na TV
Como comentar competições esportivas
Homem ameaça se matar porque não aguenta mais ouvir música do Criança Esperança
Avenida Brasil não terá fim, atendendo Procon. Emigração explode com receio de fim da novela

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Jornalista de Novela

A cada novela que passa, fica mais clara a separação, quiçá rivalidade, que existe entre a Central Globo de Jornalismo e a Central Globo de Produção, que cuida da teledramaturgia da casa. Só isso explica a forma (tosca) como a classe jornalística é retratada nas novelas da casa. Deve ser até uma forma de vingança dos atores e diretores de novelas quanto aos paparazzi (e, a propósito, o que os paparazzi fazem não é jornalismo) e críticos bastante críticos que lhes perseguem. Mas nem sempre foi assim: essa relação já foi bastante amistosa, e foi degringolando ao longo dos anos. Jornalistas já foram muito bem representados na ficção da TV brasileira. Ok, de uma forma mais romântica e idealizada, a ponto de podermos responsabilizar algumas novelas por nossas péssimas escolhas profissionais (ou nossos nomes), mas não é para isso que novela serve? Em ordem (espero eu) cronológica, veja como foi essa evolução (?) da imagem do jornalismo na TV de ficção ao longo dos anos, que acabou desembarcando numa nova categoria profissional: o jornalista de novela.

Zelda Scott: Quem não se lembra de Zelda Scott, do maravilhoso mundo da Armação Ilimitada nos espontâneos e politicamente incorretos anos 1980 (mais precisamente, 1985-1988)? Certamente, muitas meninas escolheram a profissão por culpa dela, que vivia um triângulo sexual e amoroso com dois bonitões (da época), era independente, solteira, participava de aventuras radicais e sempre estava envolvida em coberturas interessantíssimas (e nunca publicadas) para o Correio do Crepúsculo. Não há registros de Zelda Scott ter feito sequer um plantão de fim de semana na vida, apesar do seu bravo e multifacetado Chefe, até porque o programa passava às sextas-feiras, o que, aliás, a deixava sempre no pescoção.
(Foto: www.trash80s.com.br)

Chefe da Zelda: Esse, com certeza inspirou muitos chefes e pessoas com pretensões de subir mais alto na hierarquia que estão hoje por aí. Afinal, era a melhor referência da profissão que se tinha inspirada na TV dos anos 1980 para quem não tinha coordenação motora suficiente para ser um Juba ou um Lula e viver de esportes radicais tradicionais (não que o jornalismo tradicional seja menos arriscado). Trocava tanto de roupa nos episódios, que aquelas fantasias só podiam ser jabá. Interpretado pelo fantástico (e saudoso) Francisco Milani.
(Foto: seuespassoaqui.blogspot.com)

Solange Duprat: Produtora de moda da revista Tomorrow, de Vale Tudo (1988-1989). Mocinha. Só se ferrava. Já era um aviso para quem achava que a vida de jornalista era boa. Não à toa, sumiu do mapa das novelas depois que Maria de Fátima aprontou todas com a sua personagem. Sua grande chance de subir de vida foi namorando e casando com o herdeiro rico da novela, o Cássio Gabus Mendes, com quem está até hoje.
(Foto: www.trash80s.com.br)

Paulinha (Paula Ramos): Repórter iniciante representada por Cláudia Ohana em Rainha da Sucata (1990), talvez tenha sido uma das responsáveis por jornalistas serem confundidos com paparazzi, que era o estilo dela na perseguição à personagem de Regina Duarte. Deve ter inspirado muitas meninas, já que pegava o bonitão Tony Ramos ao longo do folhetim. (Personagem lembrada pela leitora homônima.)
(Foto: YouTube)

Chico Mota: Uma das últimas representações decentes de que se tem notícia (sacou? Sacou?) de um repórter e do jornalismo contemporâneo em telenovelas, foi em em Andando nas Nuvens (1999), uma pouco lembrada novela das 19h, numa atuação de Marcos Palmeira, já acostumado a amassar cacau em Renascer (1993). Talvez, heroico demais, mas jornalista tem mesmo essa mania de achar que vai salvar o mundo. Única divergência da vida real para o personagem do Marcos Palmeira é que, na novela, o jornalista é o bonitão da história. Ajudou o fato de o enredo girar em torno de um jornal, o já conhecido Correio Carioca (concorrente do Diário de Notícias), que circula em toda novela da Globo que precisa citar nominalmente um veículo de comunicação, para não comprometer O Globo. Também contribuiu para a trama: ter outros bons atores, do naipe de Hugo Carvana, no elenco de personagens jornalistas. Dali para frente, foi só ladeira abaixo.
(Foto: YouTube)
Júlia (não Hannah) Montana: Personagem da Débora Bloch em Andando nas Nuvens, concorrente e par romântico do Chico Mota, foi bastante fiel à realidade ao mostrar que jornalistas adoram namorar e casar com jornalistas, porque não basta errar uma vez, e pobreza chama pobreza. No caso, a personagem era herdeira do jornal, o que no mundo real a transformaria em chefe mesmo sem nunca ter pisado numa redação. Mas, justiça seja feita, é bem verdade que jornalista quer comer o outro (em vários sentidos) mesmo trabalhando para o mesmo veículo. Como brasileiro adora imitar tudo o que vê na televisão, a personagem ajudou a lançar a moda da bolsa com alça atravessada na frente do corpo, que toda jornalista carioca ou da Folha (ou que quisesse ser uma dessas coisas) já usou alguma vez na vida. (O uso de óculos de aro grosso permanece sem explicação até hoje.)
(Foto: YouTube)
É sempre bom lembrar que parte do talento da excelente jornalista deve-se à sua extensa carreira no jornalismo de ficção, no qual estreou como a impagável Adelaide Catarina, da TV Pirata, império da mídia que tinha ainda entre as suas publicações a revista mensal de artesanato Faça Feio. (Lembrança do brilhante leitor Renato Machado.)
(Foto: Youtube)

Renato Mendes: Protótipo do jornalista/empresário mau-caráter, de Celebridade (2003-2004), que girava em torno do mundo (e do jornalismo) de celebridades, o editor da revista Fama imortalizou o gentil bordão "entendeu ou quer que eu desenhe?", que muitos repórteres têm vontade de falar para seus editores quando estes não entendem que a pauta caiu, ou que o personagem não se encaixa exatamente no perfil que ele tinha planejado. Rico, portanto, inverossímil. Hugo Carvana, depois de ser chefe de redação em Andando nas Nuvens, virou dono de um grande império da comunicação nessa novela, provando que jornalista de verdade não merece mesmo virar empresário rico, já que seu personagem acabou morto, respondendo como objeto do bordão "quem matou Lineu Vasconcelos?". Bem, até que, pensando assim, ele subiu na vida. (Pegou? Pegou?)
Entendeu ou quer que eu desenhe? (Foto: Youtube)

Zé Bob: Canastrão de A Favorita (2008-2009) desde o nome do personagem, passando pelo cabelo e pela jaqueta de couro, nunca foi visto com um gravador ou com um bloquinho na mão e nunca deu um retorno para a chefia na redação. Como todo jornalista de novela, passava mais tempo preocupado com a sua própria vida do que com a do jornal, além de ser o galã da história e ter um carrão. Com certeza, inverossímil. Ou o carro era jabá de alguma montadora (sendo novela, o nome técnico é "merchandising"). Só a barba cuidadosamente "por fazer" e os mullets no cabelo davam algum tom de veracidade ao personagem.
(Foto: afavorita.globo.com)

Maíra: Fazia "dupla de repórter" com Zé Bob em A Favorita, portanto, outra figura que não existe na vida real, a não ser na Publicidade, o que mostra que, para escritor de novela, dá tudo na mesma. Ao morrer na novela, assassinada pela cruel Flora, provou a tese de que atores e diretores de novelas usam novelas para se vingar de jornalistas. Depois disso, Juliana Paes concluiu que era melhor ganhar a vida dançando e imitando cara de indiana em Caminho das Índias.
(Foto: Youtube)

Bruno: Ninguém se lembra do fotógrafo da pouco vista Viver a Vida (2009-2010). Deve ser porque ele não trabalhava muito, ou porque era o Thiago Lacerda mais uma vez fazendo o mesmo papel de sempre em sua carreira, o de ele mesmo, seja médico, jornalista ou açougueiro. Além disso, tinha um vidão: viajava pelo mundo e fotografava quando queria. Definitivamente, não parecia jornalista.
(Foto: viveravida.globo.com)

Diana: Pior personagem já interpretado por Carolina Dieckmann (e olha que a concorrência foi dura), vivida em Passione (2010-2011). Ajudou a desmoralizar e envergonhar de vez a classe, ao conseguir emprego de assessora de imprensa na empresa da família do namorado (por indicação do próprio, claro) e falar frases como "já recolhi todo o material de que eu precisava para a matéria", parecendo mais que trabalhava em laboratório de análises clínicas. A atriz mostrou que tinha feito seu trabalho de pesquisa ao chamar jornalistas de pobres, no seu Twitter, antes de estrear na novela. Talvez, a morte mais comemorada da história da TV brasileira. Fora tudo isso, não disfarçava o sotaque carioca para dizer que era do interior de São Paulo, mas que fazia pós na "úshpi".
(Foto: YouTube)

Kléber Damasceno: Com certeza, o jornalista mais talentoso e convincente que já apareceu na telenovela brasileira. Sempre duro e desempregado, perseguia as injustiças de todos os níveis e tinha como alvo principal o banqueiro bandido da novela. Representado por Cássio Gabus Mendes, provavelmente para se vingar de todas as traições que sofreu da Maria de Fátima em Vale Tudo. (A morte de Norma é mal explicada até hoje...) Em compensação, era machista, viciado em jogo, homofóbico e grosso à beça. Enfim, representou a nata do jornalismo brasileiro, em Insensato Coração (2010-2011). Como todo bom jornalista contemporâneo, acabou a vida fazendo um blog.
(Foto: tvg.globo.com/novelas/insensato-coracao)

Marcela: Essa é comprovação cabal de que diretores e escritores de novela odeiam mesmo jornalistas. Protótipo da repórter periguete, chantagista, mau-caráter, ameaçou até a escolada Carolina Dieckmann, já safa nessa vida de jornalista de novela e até de celebridade, em Fina Estampa, atualmente no ar. Na vida real, duvido que exista uma jornalista freelance tão abusada e metida assim, tendo que dar nota fiscal no fim do mês para receber como PJ. Aliás, não ficou claro se ela tinha empresa ou se comprava nota. Típica jornalista de novela: nunca trabalhava e só ficava azucrinando a vida dos outros. Acabou morrendo, como fruto de suas chantagens, bebê. (Outra morte comemorada, se é que ela morreu mesmo, pois vaso ruim não quebra nem em novela. Pensando bem, até que a Globo é legal com a classe jornalística matando, ou tentando matar, as jornalistas toscas.)
(Foto: tvg.globo.com/novelas/fina-estampa)

Solange: O futuro do jornalismo brasileiro, ou pelo menos do jornalismo de novela brasileiro, a funkeira Sol, estudante do excelente ensino público municipal do Rio de Janeiro (ou melhor ainda, da Barra da Tijuca) em Fina Estampa, recebeu o conselho de procurar uma coisa mais fácil, tipo Jornalismo, do seu próprio namoradinho, Daniel, que cursa o primeiro ano de Medicina de Novela e, por isso mesmo, já se acha.
(Foto: tvg.globo.com/novelas/fina-estampa)

A má representação de jornalistas em novela faz até os outros personagens desrespeitarem a profissão (além de não fazerem ideia de como as coisas funcionam). Recentemente, o muito bem interpretado Antenor, na mesma Fina Estampa (obrigado, Aguinaldo Silva), ligou para o Diário de Notícias e o seguinte diálogo (?) se sucedeu: "eu queria falar com O repórter. Como para quê?! Para dar um furo de reportagem". Como se dissesse: "alô, é do açougue? Quero falar com o açougueiro. Como para quê? Para comprar picanha, ora". Ah, se o povo do Prêmio Esso descobre como as grandes reportagens chegam aos jornais... E o jornalista convocado ainda garantiu: "sou repórter, estou acostumado, sou rápido no gatilho". Tudo bem que tem coleguinha arrogante, mas, com essa autoestima toda, é difícil de acreditar.
(Foto: tvg.globo.com/novelas/fina-estampa)

Beto Júnior: Por fim, ele, a última aparição Global de um jornalista em novela e responsável pelos últimos comentários de indignação dos jornalistas do mundo real nas redes sociais contra a péssima representação da sua categoria também na ficção. Tal como na vida real, sua importância para a trama é tão grande, que seu personagem, com nome de locutor de rádio do interior, nem aparece na lista do elenco do site oficial da novela Fina Estampa, nem mesmo abaixo das crianças ou de personagens desconhecidos (eita, novelinha cabide de emprego). Retrato dos novos tempos de "sinergias" nas redações, o personagem interpretado por Danilo Sacramento (tive que dar um Google) cobre de tudo um tudo: entrou no folhetim como "o repórter" investigativo convocado por Antenor, mas, pelo visto recentemente, também é setorista de esportes. Ou foi remanejado pela direção do seu empregador, o Diário de Notícias, após ter feito um grande estardalhaço e vendido como grande furo a bobagem de que a personagem da Christiane Torloni. Agora, cobre a "nova" aposta da Globo, que é o MMA, vulgo vale-tudo, que existe há uns 20 anos. É também a prova de que Aguinaldo Silva odeia jornalistas, pois é a terceira menção denegritória à classe na novela.
O brilhante, pretensioso e polivalente jornalista em atuação, concorrendo em veracidade com os lutadores Minotauro e Minotouro (pelo menos, eles não vivem disso) (Foto: tvg.globo.com/novelas/fina-estampa)
Aliás, só tem profissional pretensioso nessa novela. Além do concorrente do lutador Wallace Mu, o último foi o Marcello Antony dizendo que é cardiologista "e dos bons".

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