Morar numa rua de terra mesmo que ela seja asfaltada.
Saber há quantos dias um pedreiro não troca de cueca porque ele conta em voz (muito) alta para o colega, às 6h da manhã.
Ser acordado(a) às 6h da manhã por barulho de obra.
Achar normal ser acordado às 6h da manhã por barulho de obra.
Torcer para não derrubarem aquelas casinhas bonitinhas.
Torcer para derrubarem aquelas últimas casinhas feias que sobraram na rua. E levarem junto os bares onde as pessoas desprovidas de gosto musical param o carro com o som ligado no máximo durante o domingo inteiro.
É ter corretores de imóveis na porta do seu prédio perguntando se você não quer comprar um imóvel num prédio ao lado.
Esperar que o apartamento que você acabou de comprar dobre de preço de um ano para o outro.
Achar normal barulho de demolição num domingo.
Acabar aceitando o barulho a qualquer dia ou hora, com a esperança de que, assim, acabe logo, ou um dia.
Acordar achando que está ouvindo o barulho do mar e se dar conta de que é só uma máquina virando pedra.
Passar a odiar o apito dos caminhões mais do que alarme de carro.
Se acostumar com o apito de ré dos caminhões.
Com o de bate-estaca também.
Descobrir que os preços dos imóveis pararam de subir justamente depois que você comprou o seu apartamento.
Achar que está em Nova York com os nomes dos empreendimentos, todos em inglês.
Morrer de rir de quem realmente acredita nisso.
Morrer de rir de quem acha que isso valoriza o imóvel.
Achar que está em Nova York pelos preços dos imóveis.
Morrer de rir de quem realmente acredita nisso.
Perder a calçada para os caminhões.
Saber identificar as máquinas que estão trabalhando pelo barulho.
Eleger as máquinas preferidas pelo tipo de barulho e pela menor quantidade de sujeira que proporcionam.
Saber identificar e cumprimentar os pedreiros da rua.
Rezar todo dia para o prédio da frente não subir mais um andar.
Comemorar quando o prédio novo entra em fase de acabamento.
Saber identificar que um prédio entrou em fase de acabamento.
Ver os prédios mais antigos do entorno morrendo de inveja e começando a fazer obras também (na verdade, correndo atrás do prejuízo, para não se desvalorizarem).
Comemorar que vão, enfim, começar mais uma obra na rua, e dar alguma utilidade para aquele terreno baldio próximo.
Mais sobre os exageros do mercado imobiliário:
Glossário da Bolha Imobiliária Brasileira
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